segunda-feira, 3 de março de 2014

O PARAFUSO DE CABEÇA SEXTAVADA

Na Idade Média, ninguém poderia ser considerado como de nível superior se não tivesse enfrentado o estudo dos sete caminhos (vias) das artes liberais: oTrivium (Gramática, Retórica e Dialética) e oQuadrivium (Aritmética, Geometria, Astronomia e Música).
Dá para notar o quão antiga é a clássica divisão entre a área de Humanas (Trivium) e a de Exatas (Quadrivium).
Para os que estranham a inclusão da Música na área de exatas, gostaria de lembrar que a Teoria Musical é um ramo da Matemática.

 


Obviamente, as artes do Trivium eram muito mais fáceis de serem assimiladas que as do Quadrivium, por isso que, até hoje, quando algo é muito fácil e óbvio dizemos que é “trivial”.
Mesmo que seja desagradável e embaraçoso de admitir, todos nós sabemos que um dos mais graves defeitos dos professores no Brasil é a focalização exclusiva no Trivium ou no Quadrivium.

É um absurdo que um professor de Matemática cometa erros de concordância ou que uma professora de Redação não saiba resolver um sistemazinho de duas equações a duas incógnitas.
Note que não estou exigindo um profundo conhecimento de nível superior. Estou pedindo, apenas, que o professor saiba o que supostamente aprendeu quando completou o Ciclo Básico.
A causa dessa distorção? Simples, nós professores fomos também vítimas de um sistema no qual o importante era tirar nota, e não aprender!
Mas, agora que você aprendeu que seu cérebro é um maravilhoso computador dotado de uma plasticidade que permite reconfiguração em qualquer idade, que tal ampliar seus horizontes?
E uma excelente oportunidade está no seu envolvimento nessa maravilhosa tarefa de criar, no aluno, o prazer pela leitura.
Além de ampliar o leque no quesito título e autores, que tal ampliá-lo, também, no quesito GÊNERO LITERÁRIO?
Até agora a escolha do gênero esteve nas mãos do pessoal do Trivium, o que gerou um leque de opções muito limitado.

A chamada literatura, enfatizada em nossas faculdades de Letras e ensinada por professores dos quais eu desconfio que não gostem de ler, é duplamente limitada.
Limitada nos autores que, por uma questão de chauvinismo, devem ser exclusivos do idioma português  e limitada no gênero, muito mais vitral do que vidraça.
É uma literatura pedante e, vamos admitir, salvo raras exceções… chata!
Mas será que existe um gênero literário que consiga abranger o Trivium e o Quadrivium?
Claro que existe: a eternamente injustiçada Ficção Científica.

A chamada literatura, enfatizada em nossas faculdades de Letras e ensinada por professores dos quais eu desconfio que não gostem de ler, é duplamente limitada.
Limitada nos autores que, por uma questão de chauvinismo, devem ser exclusivos do idioma português  e limitada no gênero, muito mais vitral do que vidraça.
É uma literatura pedante e, vamos admitir, salvo raras exceções… chata!
Mas será que existe um gênero literário que consiga abranger o Trivium e o Quadrivium?
Claro que existe: a eternamente injustiçada Ficção Científica.

Podemos, então, matar dois coelhos com uma cajadada. Propor aos jovens obras que, além de criar o prazer pela leitura, criem o interesse pela ciência em um país excessivamente bacharelesco e, ao mesmo tempo, fazer os professores juntar o Triviumcom o Quadrivium!
Mas por que a FC sofre tanto preconceito sendo considerada, pelos críticos literários, uma forma de subliteratura?
Simples! É porque um crítico literário é alguém da turma do Trivium e não tem nível intelectual nem formação para perceber a beleza de algo que só pode ser apreciado por alguém do Quadrivium!
Um grande autor norte-americano de FC, Orson Scott Card, certa vez me explicou de forma didática o porquê dessa ignorância:
— Imagine um mecânico que foi treinado para desmontar um equipamento de forma a poder analisá-lo. — Começou Orson em um português surpreendentemente fluente. — É o que faz o crítico. Desmonta o texto usando as ferramentas nas quais foi treinado quando fez curso de Letras.
— Mostraram a ele uma chave de fenda e um parafuso em cuja cabeça está entalhada uma fenda. — Continuou Orson. — Isso é um parafuso —disseram a ele.

— E essa é a ferramenta que você vai usar para afrouxá-lo.

 

Aí ele deu a explicação que me fez entender o porquê do preconceito:
— Se aparecer um parafuso de cabeça sextavada, ele não vai admitir que não possua a ferramenta adequada. Ele vai é dizer “Isso não é um parafuso!”

 

 

Quando uma obra-prima de FC é apresentada a um desses limitados críticos, ele vai entender a parte doTrivium e vai ficar muito perplexo com o Quadrivium.
O que ele diz?
— Isso não é literatura!
Por outro lado, se a parte do Trivium for suficientemente dominante na obra para que nosso limitado crítico possa apreciá-la mesmo sem entender ou apreciar o Quadrivium, ele simplesmente vai dizer:
— Isso não é FC, é literatura!
É o que acontece, por exemplo, com Admirável Mundo Novo, de Huxley, ou O Homem Ilustrado, de Ray Bradbury.

 

fonte: http://www.neuropedagogia.org/PARAFUSO.html

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